Na virada do século a demonstração de fé

16/03/2006, 22:59

Por Luiz Antônio Barreto, em março de 2005

Inauguração do Jardim Olímpio Campos, entre as atuais praças Fausto Cardoso e Olímpio Campos, no dia 24 de outubro de 1907

Para marcar a passagem do século, do XIX para o XX, Aracaju plantou, em festa no dia 31 de dezembro de 1899, um grande Cruzeiro, na colina onde anos depois foi instalada a Caixa d'Água, idealizada pelo sanitarista Saturnimo de Brito. A ruela por onde passava o cano de distribuição da água ficou conhecida como Cano 10.

Aracaju até então bebia nas fontes do Mané Preto, que ficavam no recanto do mesmo nome, do Prata, localizada na Barriquinha, próximo ao Mané Preto, da Mata, na rua de Simão Dias, do Anipum, na entrada do bairro Industrial, dos Caboclos, no Beco da Cerimônia, entre os bairros Santo Antonio e Industrial, da Catinga, na praça do mesmo nome, hoje praça da Bandeira, da Nação, que ficava na rua de Santo Amaro, construída pelo Governo, do Barão, uma das mais antigas, na rua do mesmo nome (Barão de Maroim, hoje João Pessoa), das Quiribeiras, da Arueira, da Nação e do Tororó.

Miguel Mota Maia, com sua fonte e seu catavento à rua de Itabaianinha com São Cristóvão, vendia água na feira, nos primórdios da cidade. O Cruzeiro do Fim do Século, como ficou conhecido, foi mudado para a colina próxima ao Quartel do 28 BC, onde está até hoje e no lugar da Caixa d' Água foi construído o Centro de Criatividades, na primeira gestão do governador João Alves Filho, que dá nome ao prédio.

Mas a religiosidade do povo aracajuano continuou no encapelado do Santo Antonio, na Matriz (Catedral), na Igreja do São Salvador, que eram os três templos católicos, com três padres. Aracaju, naquele tempo, tinha 500 palmos de ruas, seis praças e era iluminada a querosene. Estava no Governo do Estado o monsenhor Olímpio Campos, que deu início à pavimentação a paralelepípedo, das ruas centrais da capital sergipana.

Em 1901, no dia 24 de março, sob os auspícios de Santa Isabel, foi organizada e instalada a Associação de Beneficência, tendo por finalidade dirigir o Hospital de Caridade, fundado em 24 de maio de 1858 sob a denominação de Nossa Senhora da Conceição, instalado em 16 de fevereiro de 1862, passando a administrar, também, o cemitério. Com a Associação de Beneficência o Hospital e o Cemitério passaram a ser denominados de Santa Isabel.

Em 1903, o empresário italiano Nicolau Pungitori criou o Teatro Carlos Gomes, na então rua de Japaratuba (hoje João Pessoa), com 400 lugares, distribuídos em bancos de 10 assentos, 30 camarotes e 150 torrinhas. Começou a funcionar em abril daquele ano, fazendo concorrência ao pequeno Teatro São José, que funcionava na mesma rua e que era, até então, a única casa regular de espetáculos. O Teatro Carlos Gomes foi alugado, várias vezes, para exibições de pequenos filmes, utilizando aparelhos cinematógrafos da Casa Pathé, que participou da origem e da história do cinema.

Vários Kinemas, assim mesmo com K, funcionaram na casa de espetáculos de Pungitori, que em 1913 passou a chamar-se Cine Teatro Rio Branco, em homenagem ao Barão e chanceler brasileiro, que morreu em 1912. O Cine Teatro Rio Branco teria seu apogeu como um espaço de múltiplo uso - teatro, cinema, eventos políticos e sociais - com Juca Barreto, e, depois, com seu irmão Paulo Barreto Mesquita, que além de ser administrador era autor de textos teatrais.

Além do Ateneu, já referido, dirigido pelo professor Baltazar Góes, a Escola Normal, dirigida por Manoel dos Passos de Oliveira Teles, que também dirigia a Instrução Pública, funcionavam em Aracaju o Colégio Americano, dirigido pelo reverendo W. Edmund Finley, estudado, recentemente, por Ester Fraga Vilas Boas Carvalho do Nascimento, o Partenon Sergipense, sob a orientação de F. Vieira de Campos, a escola Nossa Senhora da Penha, para meninas, dirigido por Manoel Francisco de Oliveira, São Tomás de Aquino, para meninos, dirigido pelo padre Manoel Raimundo de Melo, e o colégio Boa Esperança, da professora Maria Barreto. Existiam, ainda, a Escola Agrícola Salesiana São José, dos padres salesianos, tendo como diretor o padre Luiz Pasquale.

O progresso de Aracaju

O Intendente (hoje prefeito) era Francisco Monteiro de Carvalho Filho e o presidente do Conselho Municipal (hoje Câmara Municipal) era Manoel de Carvalho Nobre. O comércio era composto por três armazéns de estiva, 13 de secos e molhados, 20 lojas de tecidos, nove padarias, cinco farmácias, quatro sapatarias, uma livraria e seis trapiches, dentre eles o Lima, o Brow, o Melo e o Oliveira, enquanto as atividades industriais indicavam a existência de seis alfaiatarias, quatro fábricas de cigarro, três ferrarias, uma serraria, três saboarias, duas tamancarias, a 2 de Julho, de Manoel José Moreira, situada na rua de Laranjeiras, 73, e a de Gomes & Cia, localizada na rua Japaratuba (João Pessoa), 9, uma fundição e seis marcenarias. Havia ainda dois hotéis, uma tipografia, três jornais, cinco barbeiros, um fotógrafo, sete médicos e sete advogados, sendo quatro provisionados.

Em 1906, Aracaju vive a revolução de Fausto Cardoso, que depôs o presidente Guilherme de Souza Campos e termina com a morte do deputado, no dia 28 de agosto, com um tiro de fuzil desferido pelo Ajudante de Ordem do general Firmino Rego, comandante da tropa legalista. O tiro foi dado nas escadarias do Palácio que tomou o nome de Olímpio Campos, então senador da República, apontado como responsável direto pelo assassinato. Dois filhos de Fausto Cardoso vingaram a morte do pai, matando Olímpio Campos, no Rio de Janeiro.

Serenados e ânimos, reposto no Governo, Guilherme de Campos construiu o Jardim Olímpio Campos, como se fosse uma pequena praça entre os edifícios do Palácio e da Assembléia, gradeado por contrato com Alcino Barros, que contratou os serviços com Jungclaussen & Cia, fundição estabelecida em Maroim, inaugurando-o no dia 24 de outubro de 1907 e deu início, em 1908, ao serviço de transporte urbano, com bondes a tração animal que percorriam 13 quilômetros e 638 metros, em linhas de bitola de 0,80, com vagões abertos que levavam 20 passageiros. O primeiro bonde partiu da rua Aurora (hoje avenida Rio Branco), em frente a Casa A.Fonseca.

Um serviço de captação no rio Pitanga, sob a responsabilidade da Empresa Melhoramentos de Sergipe, de Francisco de Andrade Melo, distribuiu água encanada em Aracaju antes que terminasse a primeira década do século XX, desativando algumas das velhas fontes. À mesma época, incentivos eram dados pelo governo aos particulares que tivessem terrenos baldios e quisessem construir suas casas. Além do estímulo havia isenção de impostos para tijolos comprimidos, mosaicos, telhas francesas e outros materiais destinados à construção de prédios, material importado pelas construtoras, que gozavam do mesmo favor.

A chegada dos trens fazia a festa dos aracajuanos, fazendo da Estação Ferroviária um dos mais movimentos pontos de Aracaju

Em 1915, o trem chegou a Aracaju, na sua primeira viagem, atraindo verdadeira multidão. E no dia 5 de agosto seguiu em festa para Propriá, consolidando a ferrovia. O trem saiu da Estação Ferroviária de Aracaju, construída no início da atual avenida Coelho e Campos, na área onde mais tarde seriam construídos os Mercados de Aracaju. As velhas sumacas, que transportavam passageiros e cargas, e os saveiros, que traziam o açúcar e outras riquezas do interior, passaram a sofrer a concorrência dos navios das grandes companhias, que faziam da capital sergipana uma de suas escalas.

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