O desmonte do Morro do Bonfim e outras obras

16/03/2006, 20:18

Por Luiz Antônio Barreto, em março de 2005

Além dos aterros e drenagens que marcam, permanentemente, a evolução da paisagem de Aracaju, várias obras deram à cidade a chance de crescer, ordenadamente, e de ocupar o escasso território de pouco mais de 170 quilômetros quadrados. Estimulada de várias maneiras, a população encontrou os meios necessários a assegurar o crescimento da capital, através de ações que envolveram o poder público, tanto o governo do Estado, quanto a Prefeitura Municipal, agindo de forma isolada, ou somando esforços preciosos.

Nem sempre tem sido fácil deparar e distinguir entre as obras públicas o que é da iniciativa estadual, do que é estritamente municipal. Mesmo dispondo, atualmente, de vultosos recursos, a prefeitura não está só no encaminhamento dos problemas aracajuanos. O Governo do Estado, que sempre atuou na capital, continua investindo massivamente em obras que considera fundamentais e que estão destinadas a atender as demandas represadas pelo tempo.

Uma pesquisa ligeira na documentação disponível mostra, com todas as letras, que os caminhos do Governo do Estado e da Prefeitura de Aracaju, nem sempre estavam articulados. Nos períodos em que os Intendentes e Prefeitos eram de nomeação dos governantes estaduais havia uma justificativa para as transferências de recursos ou mesmo para obras custeadas, diretamente, pelo Tesouro do Estado. As mudanças políticas, no entanto, não alteraram as posturas.

Praticamente todos os prédios públicos, incluindo o da Prefeitura de Aracaju, foram construídos pelo Governo do Estado. Foi Graccho Cardoso (1922-1926) quem construiu o Palácio da Intendência, na então praça Tobias Barreto, hoje Olímpio Campos, o mesmo prédio onde ainda funciona o Gabinete do Prefeito e outros serviços municipais. Foi o Estado, na gestão do padre Olimpio Campos (1900-1902) como presidente, que foi iniciado o calçamento das ruas centrais da cidade. Foi o presidente Guilherme de Campos (1904-1908) quem deu início aos transportes urbanos, com o serviço de bondes à tração animal. Foi ele, também, quem construiu o Jardim Olímpio Campos, na área entre o Palácio do Governo e a Assembléia, entre as praças Fausto Cardoso e Olímpio Campos. Coube ao governador, depois Interventor, Eronídes Carvalho (1935-1940) construir a ponte sobre o rio Poxim, ligando a região do Tramandai à praia de Atalaia.

Dentre muitas obras públicas, algumas delas têm significado especial pelo que representaram para o desenvolvimento da malha urbana de Aracaju. Durante o primeiro Governo de José Rollemberg Leite (1947-1951), quando o deputado Marcos Ferreira de Jesus foi nomeado Prefeito de Aracaju, várias obras beneficiaram a cidade, como a abertura da rua de Laranjeiras, criando uma comunicação com o bairro Siqueira Campos que, anteriormente, existia de forma precária, pelo caminho das Oficinas, seguindo os trilhos da estrada de ferro.

O Governo do Estado contratou com o general cossaco Ivan Pavlechenko tanto a obra da rua de Laranjeiras, quanto a da estrada do Raposo (região onde hoje está o Parque Augusto Franco), que abria novo caminho para a praia de Atalaia, então balneário de difícil acesso. Foi também naquela quadra que Aracaju asfaltou as suas primeiras artérias, a rua de João Pessoa e a avenida Simeão Sobral.

Outra obra importante foi a abertura da avenida da Independência, hoje João Ribeiro, feita pelo prefeito Camilo de Calasans, durante o período das Interventorias, facilitando a comunicação entre o centro da cidade e bairro Santo Antônio. E assim, obra a obra, Aracaju tomou corpo nas várias direções do seu território. Uma delas, porém, no Centro comercial, no coração mesmo da cidade, mudou completamente o traçado urbano de Aracaju: o desmonte do Morro do Bonfim, imensa duna que se espalhava por várias ruas, impedindo o agenciamento urbanístico. A grande obra foi feita no Governo de Leandro Maciel (1955-1959) e foi acompanhada, diariamente, por parte da população, e particularmente pelas crianças e jovens que faziam da duna uma diversão permanente.

As areias do Morro do Bonfim estão distribuídas por muitos lugares da cidade, aterrando os charcos, nivelando os terrenos, erguendo novas áreas residenciais, como foi o caso do Bairro Brasília, entre o Santo Antônio e o Industrial, nome que homenageou a nova capital do Brasil, construída, à época, no planalto central. Os córregos e mangues que impediam, muitas vezes, a passagem das pessoas, entre os bairros Industrial e Santo Antônio, cederam lugar às ruas e avenidas que surgiram com os aterros. Mais do que retirar de sua paisagem um morro inconveniente, Aracaju ganhou um novo bairro, justo como presente do Centenário.

O desmonte do Morro do Bonfim criou várias alternativas para a urbanização do centro comercial e das ruas centrais: Vitória (avenida Carlos Burlamaqui), Bonfim (avenida Sete de Setembro, antes Nobre de Lacerda, Getúlio Vargas) Divina Pastora, Capela, Geru, Lagarto, Santo Amaro, Itabaianinha. Nivelado, o terreno foi imediatamente ocupado, com diversas construções que foram logo incorporadas ao traçado da cidade. No Governo seguinte, de Luiz Garcia (1959-1962), foi construída a Estação Rodoviária, moderno prédio com linhas que lembravam Brasília, disciplinando o trânsito dos ônibus entre o interior do Estado e a capital. A Estação Rodoviária, que recebeu o nome de Governador Luiz Garcia, serve hoje de terminal suburbano, sendo substituído em suas funções originais pelo Terminal Rodoviário Governador José Rollemberg Leite, outra obra estadual feita no segundo Governo de José Rollemberg Leite (1975-1979).

O terreno onde existiu o Morro do Bonfim, mesmo com as construções que surgiram, serviu para a montagem de circos, dentre eles o de Zé Bezerra, circo mambembe, de forte apelo popular. No local também costumavam fazer parada noturna os caminhões que traziam carga do interior. Aos poucos novos prédios, como o do INAMPS, o do IAPC, muitas casas nas várias ruas limítrofes com a grande duna, e ordenamento do tráfego por toda aquela área, modificando a vida do centro da cidade. O desmonte do Morro do Bonfim representou, sem dúvida, a maior intervenção da engenharia no centro urbano de Aracaju.

Sempre partindo do peão de ordenamento do engenheiro Pirro, Aracaju viu descortinar novos caminhos, em todas as direções. A avenida Desembargador Maynard, dando continuidade à avenida Barão de Maroim ligou o Centro ao bairro América, conectando-se com a rua do Acre, e com a avenida de Contorno Sul, antes 31 de Março, hoje Tancredo Neves. A abertura da avenida Rio de Janeiro como via pública, ladeando, nos dois sentidos, a linha do trem, representou outro avanço na melhoria da cidade.

Mais do que contar com os governadores, os prefeitos José Aloísio de Campos (Governo Lourival Baptista -1967-1970), Cleovansóstenes Pereira de Aguiar (Governo Paulo Barreto de Menezes 1971-1975), João Alves Filho (Governo José Rollemberg Leite - 1975-1979) e Heráclito Rollemberg (Governo Augusto Franco - 1979-1982) deixaram importantes obras, que alargaram a cidade, por todas as direções, modernizando a vida da capital, preparando-a para o futuro. João Alves Filho, que governa o Estado pela terceira vez e que foi Ministro do Interior tem uma fatia maior de responsabilidade e sua relação com Aracaju é permanente.

A avenida Contorno Norte, que recebeu o nome do general Euclides Figueiredo, ligando os bairros Santos Dumont e Industrial, construída no Governo Augusto Franco e finalizada e inaugurada pelo governador Djenal Queiroz (1982-1983), a Rodovia dos Náufragos, da Atalaia ao Mosqueiro, a duplicação da avenida Beira Mar, a Orla da Atalaia, em todas as suas etapas, o projeto Coroa do Meio, as avenidas, continuadas, Gentil Tavares, Visconde de Maracaju e Juscelino Kubitschek, são também grandes obras que imortalizam os seus realizadores, governadores e prefeitos, como Antonio Carlos Valadares, Albano Franco, Jackson Barreto, José Almeida Lima, Wellington Paixão, João Augusto Gama, que aceitando a parceria com o governador Albano Franco revitalizou o centro histórico e construiu novo Mercado Público.

Aracaju como foco das atenções, como inspiração permanente, tem unido os governantes estaduais e municipais e tem levado vantagem com isto, acumulando obras que modificaram a paisagem da cidade, como a Ponte sobre o Poxim, na Coroa do Meio e a Ponte, em construção, sobre o rio Sergipe, ligando Aracaju (bairro Industrial) a Barra dos Coqueiros, realização do Governo do Estado.

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